quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PROJETO POLITIZANDO 2011

O projeto Politizando fora pensando e desenvolvido pelo professor coordenador da área de história da ESEBA, Getúlio Ribeiro, juntamente com bolsistas da graduação do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia que atuavam na ESEBA. Em sua proposta inicial, que fora posta em prática pela primeira vez no terceiro trimestre do ano de 2010, o projeto visava atender aos alunos dos 8ºs e 9ºs anos do III ciclo do Ensino Fundamental.

No período em que o Brasil encontrava-se em meio a um processo eleitoral para eleger um Presidente da República, Senadores, Deputados Federal e Estadual, a equipe idealizadora do projeto Politizando, visando estabelecer uma conexão entre o tema da eleição que estava em voga com os conteúdos de História ministrados nos respectivos anos de ensino, elaborou a proposta, definindo como objetivos desta, a formação cidadã, politica e ética dos alunos envolvidos neste projeto, assim como também dar-lhes uma nova forma de representatividade no âmbito escolar, criando espaços efetivos para atuação destes. Assim sendo, o projeto Politizando rompia com o sistema anterior de representatividade discente, que constituía-se na eleição de um Representante e Vice representante de turma, e passou a compreender um grupo maior de alunos a fim de garantir maior eficácia estratégica ao trabalho por eles realizado.

Para o ano de 2011 a proposta do projeto Politizando abarcou todo o III ciclo do Ensino Fundamental, compreendendo os 7ºs, 8ºs e 9ºs, além de propor esta forma de representatividade discente ao EJA (Educação de Jovens e Adultos), com algumas alterações.
***
As atividades previstas pelo projeto Politizando dividiram-se em V fases, sendo estas assim compreendidas:

Fase I – Planejamento, orientações aos alunos e realização de inscrição de chapas para o processo eleitoral.
Tempo para execução = Março/Abril de 2011.
Fase II – Realização de processo eleitoral para a escolha das gestões que representação as turmas do III ciclo no ano de 2011 na ESEBA.
Tempo para execução = Abril/ Maio de 2011.
Fase III – Apuração dos votos, nomeação das chapas vencedoras, planejamento e elaboração do Plano de Gestão das chapas.
Tempo para execução = Maio/Junho de 2011.
Fase IV – Exercícios das gestões vencedoras, com reuniões mensais do conselho de Presidentes do III Ciclo.
Tempo para execução = Maio/Junho/Julho/Agosto/Setembro/Ourubro de 2011.
Fase V – Entrega dos relatórios finais das gestões de 2011 e avaliação final das atividades por parte dos profissionais envolvidos.
Tempo para execução = Novembro/Dezembro de 2011.
Encerramento das atividades do ano de 2011 = Novembro/Dezembro de 2011.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Os módulos de experiência em sala de aula tiveram inicio no dia 04/04/2011 e terminariam no dia 13/04/2011. Cada módulo contaria, para cada turma, com cinco encontros em sala de aula, nas aulas de Educação Física, Filosofia, História e Língua Portuguesa.

Realizadas as atividades dos módulos de experiência em sala de aula, que compreendiam desde a formação das chapas à elaboração das propostas, os candidatos a presidente de cada chapa preencheram o formulário de inscrição e o entregaram nos dias 14 e 15 de Abril de 2011 para que a equipe organizadora efetivasse a inscrição da chapa e atribuísse a ela o numeral 1 ou 2 de acordo com a ordem de chegada dos alunos.

No dia 18 de Abril de 2011, as chapas deveriam enviar suas propostas por e-mail para serem publicadas no blog do projeto Politizando(http://politizandoeseba.blogspot.com), o que foi feito até o dia 29 de abril de 2011.

As campanhas eleitorais foram realizadas do 19 de abril de 2011 até o dia 06 de maio de 2011.Os debates das chapas estudantis realizaram-se do dia 02 ao dia 06 de maio de 2011, para todo o III Ciclo da ESEBA: 7os anos A, B e C, 8os A, B e C, e 9os A, B e C.

As eleições ocorreram nos dias 27 e 28 de junho de 2011. A divulgação dos resultados e a cerimônia de posse das chapas eleitas ocorreram no dia 30 de junho de 2011.

CHAPAS VENCEDORAS:

7ª ano A – Chapa 2 - “Ox” - Igor oliveira carvalho

7º ano B – Chapa 1 - “Mundo Livre” - Carolina Nicomedes

7º ano C – Chapa 2 – “Chapa Estudantil Inovadora” - Cecilia souza silva

8º ano A – Chapa 1 – “Atitude em Foco” - Gisella carvalho

8º ano B – Chapa 2 – “PEV” - Isadora Miranda Souza

8º ano C – Chapa 1 – “PPF (Pronta para o futuro)” - Dara Santos Alves

9º ano A – Chapa 2- “Chapa Benfeitora” - Leonardo V. Ferreira Natali

9º ano B – Chapa 1- “Chapa da Liberdade” - Paula K. G. Montes

9º ano C – Chapa 1-“Partido Evoluir e Produzir” - Lorena s. Oliveira

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A República no Brasil - Parte III: Modernização conservadora e revolta popular na República Velha

Getúlio Ribeiro

Deixemos por hora de falar sobre o que significou politicamente a instauração da República no Brasil, e passemos a tratar um pouco de seu significado social mais profundo. Afinal, o que teria significado, para a sociedade brasileira (compreendendo que “sociedade” abarca toda uma diversidade de hábitos, costumes, etnias, etc.), as transformações ocorridas durante estes primeiros anos de República em nosso país? Em outras palavras: em que resultou, no que diz respeito ao cotidiano e ao dia-a-dia, e que mudanças provocou a República nas vidas “reais” das pessoas durante o período?

Como já visto em estudos anteriores, todo este período que se estende da segunda metade do século XIX até o início do século XX foi mundialmente caracterizado pela chamada Revolução Científico-Tecnológica. Da Inglaterra para o restante do mundo, a descoberta de novos potenciais energéticos, como a eletricidade e os derivados do petróleo, contribuíram para acelerar e diversificar a produção capitalista industrial em escala nunca antes vista. Se você, por exemplo, estivesse vivo nesse período, em menos de quinze anos você teria assistido ao surgimento do telefone, do aeroplano, do automóvel, da eletricidade doméstica, do fonógrafo, do cinema, do rádio, dos elevadores, dos refrigeradores, do raio X, da radioatividade e da anestesia moderna. Imagine o impacto de todas essas invenções na vida e no dia-a-dia das pessoas que viviam na época.

Quando se fundou o Partido Republicano Paulista no Brasil, a partir de 1870, entrava também em cena uma nova elite de jovens intelectuais, artistas, políticos e militares, cujos planos para o Brasil incluíam a “modernização” do país baseando-se nas novas diretrizes técnicas e científicas da Europa e dos Estados Unidos. Ou seja, “importava-se” não somente idéias políticas, mas também uma certa idéia de “modernidade”, que passou a representar sinônimo de República, em contraposição ao Império, sinônimo de “arcaico”. A principal base de apoio financeiro e político dessas novas elites se encontrava nos cafeicultores do sudeste do país, e sua idéia era promover a industrialização imediata e a modernização do país “a todo custo”.

O que não se previa é que esse “a todo custo” significava transformar radicalmente o modo de vida das sociedades mais tradicionais, de forma a desconsiderar os princípios e valores mais profundos destas sociedades, e impor um novo modo de vida baseado nos parâmetros “modernos” trazidos dos grandes centros mundiais. A violência e o desrespeito com as quais as autoridades do país à época, alimentadas pelo discurso das novas elites intelectuais, se dirigiram às comunidades mais tradicionais fez com que, para muitas dessas sociedades, a modernização não constituísse uma experiência enriquecedora, e sim traumática, desencadeando, em alguns casos, conflitos e revoltas violentas. Examinaremos rapidamente duas delas.

A Revolta de Canudos

Em 1893, as autoridades republicanas no Rio de Janeiro receberam o alerta sobre a existência de um núcleo de “fanáticos religiosos”, liderados “por um indivíduo Antônio Vicente Mendes Maciel [vulgo Antônio Conselheiro], que pregando doutrinas subversivas fazia grande mal à religião e ao Estado, distraindo o povo e arrastando-o após si, procurando convencer de que era o Espírito Santo, insurgindo-se contra as autoridades constituídas, às quais não obedecia e manda desobedecer”. O núcleo de fanáticos era a comunidade de Canudos, no sertão da Bahia, que na época nem sequer constava nos mapas oficiais.

Foram enviados, inicialmente, uma força policial, e em seguida dois destacamentos do exército, todos derrotados pelos amotinados. Uma expedição militar com artilharia pesada e equipamentos modernos, comandada por auxiliares diretos do marechal Floriano Peixoto, também foi enviada, e igualmente rechaçada. Com isso, os revoltosos receberam a imagem de “conspiradores monarquistas”, mantidos, organizados e armados a partir do exterior por antigos líderes do regime imperial. Com esse espírito fora enviada a quarta expedição, com duas divisões completas do exército, que submeteram o arraial rebelde ao mais intenso fogo cerrado. Os rebeldes resistiram até o fim, levando os oficiais a derramarem barris de querosene sobre os casebres de pau e palha, queimando vivos os moradores remanescentes e os últimos combatentes. Canudos terminou, assim, reduzida a cinzas.

Dessa última expedição participou como correspondente de guerra do jornal O Estado de S. Paulo o jovem escritor Euclides da Cunha, que, a partir da experiência escreveu, em 1902, o livro Os Sertões. No livro, Euclides explica como foi até Canudos acreditando ser realmente um reduto de monarquistas financiados do exterior e decididos a derrubar a República. Vejamos o que diz o historiador Nicolau Sevcenko acerca da experiência de Euclides:

"Foi apenas chegando lá que se deu conta da verdade, surpreendendo-se: eram apenas trabalhadores rurais pobres, sem nenhuma educação formal, com um profundo sentimento religioso, e que estavam atordoados por mudanças de grande impacto simbólico ocorridas num repente, sem que eles fossem minimamente esclarecidos sobre seu significado, seu surgimento ou sua razão de ser. Para eles, como para o grosso da população alheada dos processos decisórios, o imperador era uma figura sagrada, assim como o eram o sacramento do matrimônio ou o campo santo dos cemitérios. A deposição do monarca, assim como a separação da Igreja e do Estado, decretada pelos republicanos, só poderia lhes soar como atos, além de incompreensíveis, de desprezo e profanação de suas crenças mais íntimas e sublimes."[1]

O que os habitantes da comunidade de Canudos, sob a liderança de Antônio Conselheiro, um líder sintonizado com os valores mais profundos e caros dos seus seguidores, era, além de manter em seu meio e em seus lares o cuidado e o respeito com esses princípios sagrados, defenderem-se dos desmandos das autoridades locais, usando armas tomadas de seus próprios perseguidores. Esse foi o seu crime, e por isso foram condenados.

A Revolta da Vacina

Deixemos agora o sertão baiano e passemos à capital da República. O Rio de Janeiro, no início do século XX, contava com pouco menos de 1 milhão de habitantes. A cidade se constituía como principal porto de exportação e importação do país, ficando atrás apenas de Nova York e Buenos Aires em todo o continente americano. Frente à grande necessidade por capitais, técnicos e imigrantes, a cidade deveria servir como um atrativo para estrangeiros. O plano então traçado pelas autoridades para a capital incluía três frentes: a modernização do porto, que não oferecia condições para a ancoragem de grandes embarcações e transatlânticos; o saneamento da cidade, visando combater focos de difteria, malária, tuberculose, lepra, tifo e, principalmente, varíola e febre amarela, os quais conferiam à cidade a indesejável fama de “túmulo do estrangeiro”; e a reforma urbana, com vistas a oferecer melhores condições para o escoamento das mercadorias que chegavam ao porto, normalmente feito por caminhões que encontravam grandes dificuldades para atravessar as tortuosas vielas herdadas do período colonial, em meio aos veículos de tração animal.

A “Regeneração”, como fora chamado o processo de modernização da cidade, completou-se com a inauguração da avenida Central, atual Rio Branco, com seus elegantes lampiões elétricos e vitrines de lojas de artigos finos importados, por onde desfilavam rapazes em trajes ingleses e damas exibindo as últimas extravagâncias dos tecidos, cortes e chapéus franceses, repetindo uns aos outros: “Vive la France!”.

Entretanto, o dia-a-dia da capital não era composto apenas de luxuosas avenidas e rapazes e moças ligados às últimas modas dos grandes centros. De seu quase um milhão de habitantes, a maioria era composta por negros remanescentes dos antigos escravos, que, após a abolição da escravidão, migraram para a cidade em busca de novas oportunidades nas funções ligadas especialmente às atividades portuárias. Essa população, extremamente pobre, se concentrou nos antigos casarões do século XIX no centro da cidade, localizado nas áreas ao redor do porto, vivendo em condições de absoluta precariedade e promiscuidade, com famílias inteiras habitando um só cubículo. Com a reforma urbana, procedeu-se à demolição dos casarões, pois cerceavam o acesso ao porto e bloqueavam o livre fluxo de veículos. Diga-se de passagem, sem qualquer indenização ao realocação das famílias despejadas, que passaram a formar favelas e a se acumularem em cortiços e hotéis baratos, onde famílias inteiras alugavam esteiras no chão. Percebendo que tais alternativas acarretavam riscos de ordem sanitária, a Administração da Saúde se voltou contra elas.

Desencadeando uma campanha maciça de erradicação da varíola, criou-se os batalhões de visitadores que, acompanhados da força policial, invadiam as casas a pretexto de vistoria e da vacinação dos moradores. Se fosse constatado risco sanitário, o que, em tais condições, era inevitável, tinham autorização para mandar evacuar o local, demolindo-o e expulsando seus moradores sem qualquer direito a indenização. Vejamos, mais uma vez, o que diz Sevcenko acerca dos desdobramentos desta situação:

"Foi a gota d`’agua para a população pobre, despejada e humilhada. Num surto espontâneo, massas de cidadãos se voltaram contra os batalhões de visitadores e a força policial, dirigindo-se para o centro da cidade, onde as obras de reforma urbana prosseguiam. Lá chegando, entrincheiraram-se entre as valas abertas, tomando ferramentas e materiais de construção como armas, com as quais se puseram a enfrentar os reforços enviados pela polícia. O motim ficou conhecido como a Revolta da Vacina, de 1904, e é um dos episódios menos compreendidos da história recente do Brasil."[2]

Para as autoridades (as mesmas para as quais despejar os pobres sem indenização significava “modernizar” a cidade), tratava-se de um levante irracional de mentes “atrasadas” e incapazes de compreender o avanço do progresso e, assim como Canudos, deveria ser rapidamente eliminado. Como os policiais não conseguiam conter os revoltosos, chamou a Guarda Nacional, os bombeiros, tropas do exército e da marinha. Nada adiantava, a insurreição não cedia. Chamou-se então tropas auxiliares dos estados de Minas Gerais e São Paulo, e, apenas com essa conjunção de forças, após dez dias, o movimento foi finalmente contido. E a repressão aumentou mais ainda. O chefe da polícia da capital deu, a partir de então, ordens para que toda e qualquer pessoa abordada no centro da cidade que não pudesse comprovar emprego e residência fixos, fosse detida. Os detidos eram presos, torturados e enviados à Amazônia com o pretexto de trabalhar na extração de borracha, e lá eram abandonados na selva sem qualquer orientação ou guia.



[1] SEVCENKO, Nicolau. Introdução: o prelúdio republicano: astúcias da ordem e ilusões do progresso. In: SEVCENKO, Nicolau (org.). História da vida privada no Brasil 3: República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. P. 18-19.

[2] Idem. P. 23-24.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Atividades de revisão do texto "A República no Brasil - Parte II - Da espada ao cabresto: de 'quem' é essa República? - 9s anos - 2011

1- Em 1891, promulgava-se a primeira Constituição do regime republicano no Brasil, que teve um perfil liberal-conservador. O que isto significa, considerando-se o conteúdo da referida Constituição?

2- “A eleição de Prudente de Morais, em 15 de novembro de 1894, representou o retorno do grupo latifundiário – que fora o sustentáculo do Império – ao comando da nação.”

BUENO, Eduardo. Brasil: uma história – A incrível saga de um país. São Paulo: Ática, 2002. p. 248.

Por que os latifundiários ficaram fora do comando da República antes de 1894? De que maneira se deu esse processo?

3- O que significa a expressão “República do café-com-leite” e qual sua relação com a política dos governadores?

4- “Os grandes proprietários de terras, conhecidos como coronéis durante o Segundo Império, exerciam poder absoluto sobre seus trabalhadores e, frequentemente, sobre os municípios.”

BERTOLI FILHO, Claudio. A República Velha e a Revolução de 30. São Paulo: Ática, 1990. P. 8-10. (Col. Retrospectiva do Século XX).

- Como os coronéis exerciam seu poder nos municípios?

- Que papel os coronéis ocupavam na política das oligarquias?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Trabalhadores imigrantes no Brasil - século XIX/XX


Leide Alvarenga Turini

Mesmo antes da abolição legal da escravidão no Brasil em 1888, alguns segmentos da classe dominante brasileira, sobretudo os cafeicultores do oeste paulista, demonstravam interesse pela adoção da mão de obra do trabalhador imigrante. Isto significa que não havia mão de obra disponível no Brasil que pudesse ser utilizada por esses proprietários? Não! Havia sim, no Brasil da época (segunda metade do século XIX), um potencial de mão de obra (trabalhadores pobres e livres) que poderia atender ao interesse dos proprietários no processo de expansão da lavoura cafeeira. Entretanto, a possibilidade de utilização do trabalhador nacional foi logo abandonada.

Os trabalhadores nacionais livres se recusavam ao trabalho nas lavouras porque possuíam uma ideia extremamente negativa a respeito do mesmo. Conheciam de perto a relação existente entre senhores e escravos no Brasil, relação esta caracterizada pela superexploração e violência. Desta maneira, preferiam perambular livremente pelo país, realizar serviços esporádicos nas fazendas ou desenvolver atividades agrícolas de subsistência ao invés de se sujeitarem ao trabalho degradante nas lavouras. Para que os pobres livres se sentissem atraídos pelo trabalho disciplinado e regular nas grandes plantações, junto com os escravos ou em substituição a eles, seria preciso oferecer-lhes vantagens materiais que tornassem compensador o abandono da vida marginal e errante, porém livre, que muitos daqueles trabalhadores levavam. Em síntese, enquanto os trabalhadores nacionais (pobres livres) pudessem garantir a subsistência, mesmo que de forma precária, não se submeteriam ao regime de trabalho imposto pelos proprietários.

Assim, não foi por acaso que os cafeicultores brasileiros optaram pela mão de obra do imigrante e também não foi sem razão que trabalhadores europeus emigraram para o Brasil. Em países como a Inglaterra, França, Itália, Alemanha, o processo de industrialização, entre os séculos XVIII e XIX, fez-se à custa da exploração do trabalho dos operários urbanos e da expulsão dos trabalhadores rurais, do campo. Esses últimos, impedidos de obter a subsistência por meio do cultivo da terra dirigiram-se para as cidades onde engrossaram as fileiras dos desempregados ou se submeteram ao regime de trabalho das fábricas. A Itália, que forneceu um dos maiores contingentes de imigrantes para o Brasil, passava à época por crises políticas e sociais responsáveis por elevados índices de desemprego[1]. Por outro lado, as medidas adotadas pelos Estados Unidos no período, restringindo a imigração para aquele país, atraíram para o Brasil um elevado número de imigrantes.

Desta maneira, o trabalhador europeu, sem nenhuma propriedade, dono apenas de sua força de trabalho e que acreditava que o trabalho no Brasil seria fonte de enriquecimento e segurança, era o trabalhador ideal na perspectiva capitalista dos proprietários brasileiros.

Assim é que, no século XIX, milhares de imigrantes (alemães, suíços, italianos, espanhóis, portugueses, entre outros) entraram no Brasil trazendo na bagagem apenas alguns objetos de uso pessoal e na cabeça o sonho de “fazer a América”. Para a concretização da imigração em massa de trabalhadores europeus para o Brasil, um fator que muito contribuiu foi a intensa propaganda feita pelo governo brasileiro na Europa.

Conforme Michael Hall, a respeito da propaganda feita na Itália:

Durante os últimos anos da década de 1880, agentes do Brasil pululavam em Veneza e outras partes do Vale do Pó estimulando “uma espécie de febre” que levaria inúmeros trabalhadores agrícolas a partirem para o Brasil, na “esperança de lá encontrarem a terra prometida” como escreveram os funcionários italianos em  Treviso. Alguns desses candidatos à emigração até viajaram a pé, cruzando a maior parte do norte da Itália sob um rigoroso inverno, para tomar os navios que em Gênova prometiam passagens grátis para Santos. 

Os trabalhadores imigrantes vinham para o Brasil em busca de uma vida melhor, diferente daquela que levavam em seu país de origem. Fugiam do desemprego e da fome e acreditavam, por força da propaganda, que no Brasil teriam acesso a terra (como os primeiros imigrantes que vieram para o Brasil no início do século XIX) e que poderiam construir uma nova vida.

Antes da vinda de imigrantes para o trabalho nas lavouras, algumas experiências já haviam sido realizadas com colonos europeus no Brasil. Por exemplo, no início do século XIX, com o objetivo de promover o povoamento de algumas regiões do país, o governo brasileiro criou o sistema de colonização que consistia na instalação de imigrantes em pequenas propriedades de terra. Por esse sistema, as famílias de colonos imigrantes recebiam pequenos lotes de terra onde deveriam produzir principalmente gêneros alimentícios para o mercado interno. Pelo sistema de colonização chegaram ao Brasil, nas primeiras décadas do século XIX, imigrantes alemães e suíços que se estabeleceram no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Colônias como a de São Leopoldo (1824) no Rio Grande do Sul e a de São Pedro de Alcântara (1828), em Santa Catarina, foram criadas dentro dos princípios do sistema de colonização. Mais tarde outras colônias foram fundadas, como a colônia Dona Francisca (hoje Joinville) e a colônia de Blumenau (1850), em Santa Catarina. As colônias estabelecidas no sul do país não representavam uma ameaça para os cafeicultores do sudeste nem para os pecuaristas gaúchos uma vez que se localizavam em áreas não ocupadas pelo latifúndio e produziam gêneros que não concorriam com os da grande lavoura. Esperava-se desses colonos imigrantes que, ao receberem terras, formassem uma camada social intermediária entre escravos e latifundiários (a categoria social dos pequenos proprietários) com a tarefa de produzir vários gêneros para o mercado interno, atendendo às necessidades dos latifúndios (cuja base era a monocultura de exportação) e dos núcleos urbanos em expansão.

Mas foram poucos os colonos imigrantes que receberam terras e subsídios do governo brasileiro, principalmente a partir da aprovação da lei de terras de 1850. Esta lei proibiu a aquisição de terras devolutas por posse ou doação. A partir de então, a terra só poderia ser adquirida mediante título de compra. Essa lei provocou a expulsão de muitos posseiros, bem como impediu que outros trabalhadores nacionais e também imigrantes tivessem acesso a terra.

De qualquer maneira, o sistema de colonização durou pouco. A partir de 1840, quando os proprietários paulistas passaram a defender a vinda de imigrantes para o trabalho nas lavouras de café, o sistema adotado nada tinha a ver com o que havia sido realizado nas primeiras décadas do século XIX. Conhecido como sistema de parceria, a primeira experiência ocorreu em 1847, na Fazenda Ibicaba (região de Limeira), cujo proprietário era o senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Para o transporte dos imigrantes o senador Vergueiro fundou a empresa Vergueiro e Cia. Os trabalhadores imigrantes contratados eram todos camponeses empobrecidos, artesãos e operários que esperavam encontrar no Brasil o que na Europa estavam impossibilitados de obter: acesso a terra, bens materiais e condições dignas de vida.

De acordo com o contrato de parceria, os colonos tinham todas as despesas de viagem pagas e transporte até a fazenda. Os gastos com manutenção e instalação da família, efetuados logo após a chegada dos mesmos corriam também por conta do fazendeiro. Essa gratuidade era, na verdade, apenas um adiantamento: logo que o colono iniciasse a produção deveria começar a pagar o fazendeiro com juros de 6% ao ano e, mais tarde, juros de até 12% ao ano. A cada família de colonos imigrantes era atribuído um certo número de pés de café para cultivar, colher e secar, além de um pedaço de terra para plantar gêneros de subsistência. Do lucro obtido com o café colhido, o colono deveria receber a metade, descontando-se, porém, todos os gastos com a secagem no terreiro, limpeza, beneficiamento, transportes e impostos. O fazendeiro ficaria também com a metade do lucro dos alimentos vendidos pelos colonos.

Ainda com pouco tempo de funcionamento, o sistema de parceria acarretou vários problemas que acabaram em sérios conflitos entre as duas partes. Os colonos acusavam os fazendeiros de lhes destinar poucos cafeeiros frutíferos que produziam uma safra pequena e em terras menos acessíveis. Reclamavam dos pesos e medidas utilizados pelos proprietários que avaliavam a mercadoria em prejuízo dos colonos. Criticavam a falta de liberdade religiosa e as moradias em que eram instalados: casas de pau-a-pique, sem forro, de chão batido e, em algumas vezes, até antigas senzalas. Consideravam injusta a entrega de metade da produção de sua roça ao fazendeiro e desonesta a contagem dos juros. Além disso, muitos fazendeiros, ao contrário do que haviam prometido anteriormente, cobravam aluguel dos colonos. O endividamento dos colonos era permanente, pois além das dívidas contraídas com a viagem, havia também as dívidas feitas nos armazéns das fazendas. Durante o tempo em que o colono não podia colher seus próprios alimentos e, em virtude do pouco que recebiam, eram obrigados a comprar fiado nos armazéns do fazendeiro. Este comprava os alimentos a preços reduzidos e os fornecia aos colonos a preços altíssimos. Dessa maneira, muitos imigrantes endividaram-se de maneira irrecuperável, sendo que a dívida chegava a dobrar ou até mesmo triplicar seu valor em dois ou três anos e o colono acabava ficando preso ao fazendeiro, quase como um escravo.

Os colonos não se acomodaram a esta situação. Inicialmente realizaram protestos pacíficos enviando reivindicações e críticas por escrito às autoridades locais e internacionais. Depois, recusaram-se a trabalhar e pouco a pouco muitas famílias abandonaram as fazendas. Foram inúmeros os casos de greves, rebeliões, prisões e queixas entre colonos e fazendeiros. Por outro lado, os fazendeiros se sentiam ameaçados e acusavam os colonos de indisciplinados, reclamando das freqüentes deserções de suas fazendas. Quando eram consultados sobre maneiras de melhorar o sistema, sugeriam financiamento do governo, fiscalização e repressão policial.

Durante a década de 1860 as fazendas de café foram abandonando o sistema de parceria e, na década de 1880, iniciou-se o sistema de imigração subvencionada ou subsidiada. Os fazendeiros paulistas organizaram, em 1886, a Sociedade Promotora de Imigração que, entre outras atividades, passou a administrar a Hospedaria dos Imigrantes, construída no mesmo ano em São Paulo, e que se tornaria um verdadeiro mercado de trabalho onde se firmavam contratos entre imigrantes e fazendeiros. Na imigração subvencionada, diferente do que ocorria no sistema de parceria, o governo brasileiro assumia a responsabilidade de arcar com as despesas de viagem dos trabalhadores imigrantes e de suas famílias e os fazendeiros arcavam com os gastos do colono durante o seu primeiro ano de vida no país. Além disso, os colonos receberiam um salário fixo anual e mais um salário de acordo com o volume da colheita, fixado por alqueire de café produzido.

Entretanto, mesmo após a imigração subvencionada, as condições de moradia, saúde e educação dos trabalhadores imigrantes continuaram muito ruins e o sonho de ter acesso a terra concretizou-se para bem poucos. Muitos deles, após certo tempo trabalhando nas lavouras de café, tomavam o rumo das cidades a procura de trabalho nas fábricas ou em outras atividades urbanas. Em 1902, o governo da Itália proibiu a imigração subvencionada para o Brasil e os fazendeiros passaram a se interessar pela imigração de trabalhadores portugueses e espanhóis. Em 1910, o governo espanhol também proibiu a emigração subsidiada. A partir de 1908 chegaram ao Brasil imigrantes japoneses, os quais passaram a integrar a força de trabalho nas lavouras de café e em outras atividades agrícolas do país.

Bibliografia:

ALENCAR, Francisco e outros. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986, p. 143-148.

AZEVEDO, Célia M.M. Onda negra, medo branco. O negro no imaginário das elites – século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

REVISTA TRABALHADORES. Imigrantes. Publicação da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas: 1989.



[1] De acordo com Francisco Alencar, “na Itália que forneceu o maior contingente de imigrantes para o Brasil, havia várias forças de expulsão. As lutas políticas do processo de unificação e o desenvolvimento do capitalismo no campo levaram à concentração da propriedade da terra, ocasionando o desemprego de milhares de famílias. O crescimento industrial no norte provocou a falência de pequenas indústrias e manufaturas do sul, o que também causou desemprego”. ALENCAR, Francisco e outros. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986, p. 147.


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA

A Revolução Industrial

Chamamos de Revolução Industrial o conjunto de mudanças ocorridas na produção de mercadorias e no modo de viver das pessoas na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, e que se expandiu para outros países no século XIX.

Conforme escreveu o historiador inglês Eric Hobsbawm:
“A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos escritos. Durante um breve período ela coincidiu com a história de um único país, a Grã-Bretanha. Assim, toda uma economia mundial foi edificada com base na Grã-Bretanha, ou antes, em torno desse país, que por isso ascendeu temporariamente a uma posição de influência e poder mundiais sem paralelo na história de qualquer país com as suas dimensões (...)”. In: HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2003. p. 13.
Para compreendermos esse conjunto de mudanças, é importante perceber como as pessoas produziam aquilo que precisavam antes da Revolução Industrial.

- O artesanato

Durante a Idade Média predominou o artesanato, uma forma de produzir coisas, ainda comum em muitos lugares do Brasil.
Na produção artesanal, todas as tarefas são desenvolvidas (quase sempre) pela mesma pessoa.
Veja o exemplo do sapato: o artesão (sapateiro) inventa os modelos, corta o couro, costura-o, cola-o e faz o acabamento. Este artesão até pode ter pessoas o auxiliando, mas conhece todas as fases da produção. Normalmente trabalha em cômodo da sua própria casa e, desse modo, pode decidir quantas horas trabalhar – quando começar, quando parar para descanso, quando exceder nas horas de trabalho. Em suma, o artesão pode controlar o seu tempo.

- A manufatura

A manufatura surgiu quando os comerciantes europeus perceberam que deviam produzir mercadorias, pois a população da Europa cresceu consideravelmente e também os seus produtos poderiam ser enviados para a América, África e Ásia (continentes que os europeus haviam colonizado).
Aqueles comerciantes que tinham mais posses – isto é, dinheiro – reuniram homens, mulheres, jovens e crianças para trabalhar nas oficinas e fabricar produtos. Os donos dessas oficinas forneciam a matéria-prima e pagavam aos trabalhadores uma certa quantia pelo trabalho realizado.
Desse modo, na manufatura, o trabalhador não é dono dos meios de produção (oficina, ferramentas etc.) e existe uma divisão do trabalho (cada pessoa desempenha uma tarefa na produção).
Todos os equipamentos são manuais, ou seja, devem ser manejados pelos trabalhadores para funcionar.
É com a invenção e utilização das máquinas nas primeiras fábricas que se iniciaram as mudanças que caracterizam a Revolução Industrial: cada máquina substitui várias ferramentas e realiza o trabalho de diversas pessoas. Mas as fábricas, mesmo equipadas de máquinas, precisam de trabalhadores para “auxiliá-las” na produção das mercadorias. Assim surge o trabalhador assalariado, ou seja, as pessoas que foram trabalhar nas fábricas em troca de um salário. Assim surgem, portanto, patrões (donos das fábricas) e empregados (trabalhadores das fábricas).
A máquina a vapor, aperfeiçoada na década de 1760, foi um invento dos mais importantes para o desenvolvimento da Revolução Industrial. Isto porque o uso do vapor como fonte de energia possibilitava substituir as energias muscular, do evento e a força da água por uma energia mecânica.

O pioneirismo inglês

Foi na Inglaterra onde se desenvolveram as primeiras máquinas a vapor e, portanto, onde surgiram as fábricas, com suas chaminés lançando canudos de fumaça e poluindo o ar.
Veja alguns fatores que determinaram o pioneirismo inglês no processo de industrialização:
-O acúmulo de capitais (riquezas, dinheiro) conseguido através da expansão marítimo (lucros do tráfico de escravos, pirataria e exploração de colônias);
-A Revolução Inglesa do século XVII, que eliminou os entraves feudais e permitiu o avanço capitalista no campo (cercamentos, isto é, expulsão dos camponeses das terras para usá-las como pastagens, para criação de animais como cavalos e/ou ovelhas);
-Os avanços tecnológicos experimentados pelos ingleses, como a mencionada invenção da máquina a vapor e, posteriormente, o desenvolvimento dos meios de transporte (ferrovias);
-O desenvolvimento da metalurgia, indispensável à fabricação de máquinas, trilhos de ferro etc.;
-A existência de reservas de carvão e ferro, tão necessários para o funcionamento das fábricas;
-A mão-de-obra com fartura e também barata, uma vez que milhares de camponeses tiveram que deixar o campo e partir para as cidades, devido aos cercamentos.

As fábricas e os operários:

As condições gerais de trabalho nos primeiros tempos da Revolução Industrial não eram agradáveis. Leia o texto abaixo, de autoria do historiador inglês William Henderson, que permite uma melhor compreensão dessa situação vivida pelos trabalhadores:
“A Revolução Industrial teve consequências dramáticas para todos os grupos de trabalhadores. Os operários nas fábricas, os mineiros nas minas de carvão, os artífices nas suas oficinas e os camponeses na terra tinham que se ajustar a um modo de vida inteiramente novo. Muitos entravam nas fábricas com muita relutância. (...) Os males sociais das fábricas, das cidades fabris e das mineiras e as tragédias dos trabalhadores domésticos agora desempregados estavam entre os primeiros aspectos da ordem que requeria a atenção dos reformadores.
Muitos operários das primeiras fábricas ficavam em completa dependência dos seus novos patrões. Nos princípios do século XIX, um mineiro de Durham ou um oleiro de Staffordshire que tivesse assinado um contrato por um ano e vivesse numa choupana da firma estava completamente à mercê do patrão. Havia outros modos dos patrões dominarem os operários. Em certos distritos industriais era vulgar homens receberem salários antecipados e assim caíram em débito permanente.
Os operários das fábricas e das minas não estavam sob o poder dos patrões como sob o poder público. Era-lhes proibido juntarem-se em sindicatos obreiros, fazer greve ou emigrar. (...)
Os trabalhadores achavam, pois, difícil adaptar-se à disciplina imposta pela fábrica. No passado, os artífices e os camponeses trabalhavam muitas horas, mas podiam descansar de vez em quando. iA máquina cruel, contudo, precisava de atenção constante. A pontualidade e a rigorosa atenção ao trabalho eram reforçadas por multas e pela ameaça de demissão. (...)
As queixas mais sérias dos operários das fábricas e das minas referiam-se às excessivas horas de trabalho, salários baixos, multas, e ao sistema de permuta segundo o qual os patrões pagavam em gêneros e não em dinheiro. Os homens, mulheres e as crianças trabalhavam doze horas ou mais por dia e estavam geralmente exaustos quando regressavam a casa. Visto a certos patrões interessar que as máquinas trabalhassem continuamente, introduziram-se turnos noturnos em algumas indústrias. O número de dias de trabalho no ano aumentava. Por vezes o domingo era de trabalho também, apesar dos protestos das Igrejas. Nos distritos onde os aprendizes costumavam ter as segundas-feiras livres, os patrões faziam o possível por abolir esse hábito. E, nos países católicos, os dias santos eram gradualmente reduzidos nas fábricas. Além disso, após a Revolução Industrial, um operário tinha às vezes de percorrer uma considerável distância à pé para chegar à fábrica, enquanto sob o anterior sistema doméstico trabalhava em casa.”
In: HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979. p. 122-128.

Texto produzido pelo Prof. Elmiro Lopes a partir das referências bibliográficas abaixo:

BIBLIOGRAFIA

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 7ª série (8º ano). São Paulo: FTD, 2006.
HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Do artesanato à maquinofatura: os primórdios do consumismo

Considerando os milhares de anos da história da humanidade, faz pouco tempo que as pessoas trabalham o dia inteiro, tem horário para tudo e vivem com pressa. Essa vida de correria começou com a industrialização, no século XVIII, quando as máquinas passaram a produzir muito mais em menos tempo.

A industrialização começou com as máquinas que produziam tecidos na Inglaterra. Aos poucos, essa velocidade se estendeu a outras esferas da sociedade, como transportes e comunicações. As cidades cresceram, assim como o número de fábricas, a poluição e o consumismo.

Para entendermos estas transformações precisamos compreender o que seria a primeira forma de produção industrial, o artesanato que surgiu no fim da Idade Média. Como vimos no texto anterior, com o aumento da população urbana, surgiram novas ocupações profissionais e uma nova forma de organização do trabalho e da produção. Entre as várias atividades artesanais, a que mais se destacou foi à produção têxtil. Na produção artesanal, havia os mestres ofício, que eram os donos das oficinas e dos instrumentos. Com eles trabalhavam os aprendizes, homens livres que dependiam do mestre para trabalhar e aprender o ofício, e jornaleiros, homens que trabalhavam por jornada recebendo uma remuneração diária. O artesão realizava e conhecia todas as etapas da produção. A produção caseira dependia totalmente da habilidade, da força e da velocidade do artesão que fazia tudo que produzia manualmente. Por isso, o sistema doméstico produzia em pequena escala e não garantia uma produção volumosa.

O artesanato que vemos hoje nas ruas ou nas lojas de produtos alternativos é bem diferente do artesanato doméstico que estudamos, embora as técnicas de trabalho sejam muitas vezes as mesmas. Naquela época, o artesanato era fundamental para obter coisas básicas, como roupas, móveis, tapetes, cobertores, utensílios domésticos etc. Atualmente, o artesanato está voltado para a produção de artigos ornamentais e representa pouco do volume geral das mercadorias produzidas na maior parte dos países.

Por volta do século XV, homens de negócios começaram a agrupar os artesãos em grandes galpões para controlar a produção de mercadorias. Surgia assim a manufatura, forma de produção básica da época da transição do feudalismo para o capitalismo, e é considerada por muitos estudiosos, a primeira forma de produção capitalista.

Nesse sistema, a produção foi dividida em diferentes etapas, cada qual realizada por um trabalhador. Como no artesanato, o trabalhador era o agente principal da produção, mas este não mais controlava a confecção do produto do começo ao fim, ao contrário, responsabilizava-se por apenas uma parte da produção. Contava com o auxílio de ferramentas e de algumas máquinas simples, como a de fiar e a de tecer, no caso da tecelagem. Na manufatura, o artesão deixou de ser dono dos instrumentos e do local de trabalho, que foram para as mãos dos capitalistas, e passou a trabalhar em troca de um salário.

Nas manufaturas, trabalhavam dezenas ou mesmo centenas de pessoas, sob as ordens de um empregador capitalista. Em cada manufatura desenvolvia extensa divisão do trabalho, cada linha de produção sendo dividida em numerosas tarefas distintas. Cada grupo de trabalhadores se dedicava especializadamente a uma dessas tarefas, o que permitia grandes ganhos de produtividade. [1]

A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão a aumentar a produção e o comerciante a dedicar-se à produção em maior quantidade para venda e não só para o consumo próprio. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o arte­são trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse comerciante passou a administrar a produção de mercadorias, além de vendê-las. Primeiro, contratou artesãos para dar acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar. Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social, isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção.

Além disso, houve a ampliação do mercado consumidor que se relaciona diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção as terras conquistadas pelos europeus tanto no Oriente como em direção à América, permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores.

Na segunda metade do século XVII, com a Revolução Industrial, a manufatura foi substituída pela maquinofatura, o que aconteceu primeiramente na Inglaterra.

A energia hidráulica e, depois, os motores a vapor começaram a mover as máquinas, aumentado a velocidade e a precisão da produção, que estava parcialmente automatizada. O trabalhador passou a alimentar a máquina, verificar e controlar sua velocidade e zelar por sua manutenção. Com a divisão de tarefas, operário não conhecia mais todo o processo produtivo: ele dominava apenas a etapa da produção da qual era encarregado. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados, pois as máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. Até os dias de hoje, o desemprego é um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento.

Não podemos negar, então, que os resultados desta transformação nas relações de produção foram extraordinários, refletindo em vários setores da vida humana.

BIBLIOGRAFIA

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 7ª série (8º ano). São Paulo: FTD, 2006.

HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979.

MARQUES, Adhemar. Pelos caminhos da história: ensino médio. Curitiba: Positivo, 2006.

SCHMIDT, Dora. Historiar: fazendo, contando e narrando a História. 7ª série. São Paulo: Scipione, 2002.



[1] SINGER, Paul. A formação da Classe Operária. 5.ed.São Paulo: Atual, 1994,p.12

terça-feira, 15 de março de 2011

A Europa: entre a fé e a razão¹

Como já estudamos, o feudalismo foi o sistema político, social e econômico que predominou na Europa durante a Idade Média, consolidou-se no século X, atingiu o auge no século XII e a partir do século XIII entrou em colapso. Durante a Baixa Idade Média, iniciou-se a transição que o substituiria pelo capitalismo, sistema dominante na história até hoje.

O sistema feudal era marcado pela descentralização política, pela imobilidade social e pela autossuficiência econômica dos feudos.

O PODER DA IGREJA

Nenhuma instituição foi tão rico, bem organizada e influente na Europa feudal quanto a Igreja Católica. Com a transição do cristianismo em religião oficial do Império Romano, em 391, durante o reinado de Teodósio, a Igreja passou a acumular fortunas e vastos territórios. No século V, a instituição tinha uma organização hierárquica definida – com padres e sacerdotes na base da pirâmide, bispos logo acima e o papa no topo e estava bem instalada pelo continente. Os religiosos dedicaram-se em converter os “bárbaros” e a promover sua integração com os romanos, ganhando prestígio e passando a assumir funções administrativas nos novos reinos. O cristianismo era professado por todos os feudos. Mas é importante frisar que a reprodução desta religião misturava-se a uma infinidade de antigos costumes bárbaros.

A religião era utilizada como mecanismo de harmonização entre o poder dos nobres e a submissão forçada dos servos, que deveriam acreditar que Deus teria estabelecido a função de cada um nessa vida e que não haveria mais diferenças sociais quando chegassem no Paraíso. Por outro lado, os nobres acolhiam os servos em seus domínios partindo da ideia que realizavam um ato divino. Além de deterem poder político e econômico, os sacerdotes formavam a elite que sabia ler e escrever e passaram a encerrar em si o monopólio do conhecimento. Não à toa, os maiores expoentes da filosofia medieval são religiosos. O pensamento filosófico da época foi intensamente influenciado pelo cristianismo, confundindo-se com a teologia. Desta forma, possuidores da cultura escrita e, portanto, do acesso à Bíblia, os sacerdotes cristãos transmitiam seus ensinamentos principalmente por meio da palavra, nos sermões e nas pregações. Gravuras, pinturas, vitrais e esculturas também veiculavam as mensagens eclesiásticas.

Como o clero não exercia nenhum trabalho braçal e a Igreja era um dos maiores detentores de terras, esse segmento constituía-se em uma nobreza tanto quanto qualquer outra. O papa possuía preparo militar e, não raro, comandava tropas contra nobres que o desafiavam, além de muitas vezes estarem a frente das Cruzadas pregadas pelo papado.

As Cruzadas foram expedições religiosas e militares dos cristãos com destino à Terra Santa (Jerusalém), realizadas entre os séculos 11 e 13. Além da intensa religiosidade, uma série de motivações esteve por trás das expedições: o controle das rotas do comércio com o Oriente, a conquista de terras, a possibilidade de fortalecimento do poder dos monarcas feudais e a ampliação do poder da Igreja. Além disso, Cruzadas exportavam duas fontes de tensão social: as camadas empobrecidas e marginalizadas e os representantes da pequena nobreza desprovidos de terras.

Com tanto poder nas mãos, as autoridades católicas fizeram de tudo para aumentá-lo ainda mais. Para isso, muitas vezes usavam como pretexto o suposto combate à heresia (prática contrária a doutrina da Igreja, ou seja, questionamento aos dogmas católicos). O símbolo máximo dessa repressão foi a instauração em 1231, dos tribunais do Santo Ofício, ou Inquisição, pelo Papa Gregório IX, que tinham poderes para julgar e condenar à morte os réus considerados infiéis.Na verdade , quase todos os condenados eram simplesmente pessoas que discordavam dos desmandos católicos ou opositores dos aliados da Igreja. Foram Joana D`Arc, queimada viva em 1431, sob acusação de bruxaria e Galileu Galilei que chegou a renegar suas descobertas cientificas e foi condenado à prisão domiciliar, em 1663.

O RENASCIMENTO: ENTRE A IDADE MÉDIA E A MODERNA

É preciso deixar claro que não existe um consenso entre os historiadores no que se refere à ideia de ruptura ou continuidade do passado quando o assunto é o Renascimento cultural e cientifico, fenômeno social que se processou na chamada passagem da Idade Média para a Moderna. Por um lado, tal movimento pode ser visto como um marco na divisão de dois períodos, apresentado um novo modo de pensar, uma nova atitude perante a vida, novos temas abordados sobre o mundo intelectual e artístico para demonstrar isso. Neste sentido, podemos entender o Renascimento como ruptura.

Desde o século 12 teve início um lento processo de transformação cultural a partir das cidades italianas que se espalhou por toda a Europa. As cidades medievais tornavam-se centros de intensa produção intelectual, oferecendo cursos que abrangiam desde o ensino elementar até os altos estudos universitários. As atividades urbanas requeriam novas habilidades e conhecimentos. Ler, escrever e calcular eram indispensáveis à prática do comércio.

No século 13, uma alteração da sensibilidade artística começou a se manifestar com a valorização da cultura greco-romana, racionalismo e do naturalismo, ameaçando o controle da Igreja. A relação com a Antiguidade não representava o desejo nostálgico de retornar ao passado. Os homens medievais queriam o poder, a ciência, a arte e a filosofia dos antigos adaptada ao seu mundo.

O desenvolvimento da nova cultura correspondia às necessidades da burguesia de se afirmar em uma sociedade dominada pela nobreza e pelo clero. Desde cedo, ricos comerciantes, denominados mecenas, patrocinavam os artistas. Além do prestigio político que adquiriam esses comerciantes contribuíram para a formação de um movimento cultural conhecido por Renascimento, que atingiu seu apogeu no século 15 e 16.

A transição do mundo medieval para o mundo moderno foi lenta e carregou consigo uma forte herança, a qual teve vida longa em alguns pontos e noutros, foi enfraquecida até a exaustão. E, dessa forma, não foi um processo homogêneo. Nesse processo, pode-se entender como elementos da transição o Renascimento (a busca de uma vida de mundo humanista e burguesa), a Reforma (uma Igreja favorável ao pensamento burguês) e o Absolutismo ( a centralização do poder real).

O elemento central do Renascimento foi o humanismo, corrente filosófica que se baseava no antropocentrismo, ou seja, considerava o ser humano o centro das questões. Para os humanistas, o homem é dotado de uma capacidade quase divina de criar e, ao exercê-la, aproxima-se de Deus. Ao rejeitarem ferozmente os ideais medievais – segundo os quais Deus era o centro de tudo e a fé se colocava acima da razão – e ao se inspirar em pensadores da Antiguidade Clássica, os humanistas julgavam estar promovendo um renascimento da cultura.

Outras características fundamentais do Renascimento foram o naturalismo, a busca por uma representação da natureza fiel à realidade; o racionalismo, valorização da razão; e o hedonismo, que defende o prazer individual como único bem possível.

Uma série de fatores proporcionou a ocorrência do Renascimento a partir da Baixa Idade Média. Inicialmente, houve o renascimento comercial, isto é, a generalização do comércio pela Europa, fenômeno que se tornou irreversível desde a abertura do Mediterrâneo. Isso tudo foi acompanhado pelo renascimento urbano, que implicou o surgimento de novas cidades e uma série de funções para elas; a cultura renascentista foi essencialmente urbana.

Ocorreu também o surgimento e a ascensão dos mercadores, ligados principalmente ao comércio marítimo. Para que isso acontecesse, foi necessária a centralização do poder algumas partes da Europa, o que favoreceu a redução do poder da Igreja.

O Renascimento desenvolveu-se com maior intensidade na Itália, o único local onde podemos encontrar manifestações em todas as áreas do conhecimento. De maneira geral, o Renascimento ou a Renascença pode ser dividido em três períodos: Trecento, Quatrocento, e Cinquecento, que corresponderiam aos séculos XIV, XV e XVI.

Trecento - foi o período em que se começou a romper com os modelos artísticos da Idade Média. Na pintura, destacou-se Giotto di Bondoni, que representava imagens sacras já com forte traço naturalista. Na literatura, os maiores nomes foram Dante Alighieri (Divina Comédia) e Giovani Boccaccio (Decameron). Os três usavam, em vez do latim, identificado com a cultura eclesiástica medieval, o toscano, dialeto que originou o atual italiano.

Quatrocento - caracterizou-se por intensa produção artística e extrema evolução intelectual. Foi quando, graças ao financiamento dos mecenas, os artísticas começaram a deixar de ser encarados como simples artesãos para se tornar profissionais independentes. Entre os artistas que mais se destacaram no período estão Leonardo da Vinci(Mona Lisa e o Homem Vitruviano) e Sandro Botticeli (O Nascimento de Vênus).

Cinquecento – no século XVI, Roma substituiu Florença como principal centro de arte na Itália, e a Igreja Católica tornou-se o grande mecenas do período. Rafael Sanzio (Escola de Atenas, pintada em uma das paredes do Vaticano) e Michelangelo (esculpiu Pietá, Davi e Moisés), dois dos maiores artistas plásticos do Cinquecento, produziam importantes obras para a Sé. Na literatura, sistematizou-se o uso da língua italiana com autores como Ariosto, Torquato Tasso e Maquiavel. Esse último, o mais importante pensador político do período, é o autor de O Princípe, ensaio sobre a arte de bem governar, que defende a falta de escrúpulos, o uso da força e a diminuição da atuação política da Igreja.

Foi também no século XVI que viveram os grandes cientistas do Renascimento: o polonês Nicolau Copérnico, o alemão Johannes Kepler e os italianos Giordano Bruno e Galileu Galilei, todos astrônomos defensores da revolucionária teoria heliocêntrica, que rompeu com supostas verdades da Igreja ao afirmar que o Sol, e não a Terra, seria o centro do universo. Esses pensadores foram os primeiros a utilizar o método cientifico, série rigorosa de testes que pretende garantir a veracidade das teorias. Essas especulações abriram caminho para novas pesquisas que acabariam escapando ao controle da Igreja. Aos poucos, o método experimental passou a ser o principal meio para se alcançar o saber cientifico.

Seguindo pelas rotas comerciais, o Renascimento chegou a várias outras partes da Europa. Os Países Baixos destacaram-se na pintura, com Brueghel e os irmãos Hubert e Jan Van Eyck, e na filosofia, com o humanista Erasmo de Roterdã. Na Inglaterra surgiu outro expoente do humanismo, Thomas Morus (Utopia), e um dos maiores dramartugos de todos os tempos, William Shakespeare (Hamlet, Macbeth, Romeu e Julieta). Entre os franceses, os mais notáveis foram os escritores Rabelais (Gargantua e Pantagruel) e Montaigne (Ensaios). A península Ibérica não incorporou completamente os valores renascentistas, mas também produziu célebres escritores no período, como o português Luís de Camões (Os Luisíadas) e o espanhol Miguel de Cervantes (Dom Quixote de La Mancha).

Referências Bibliográficas:

BOULOS Júnior, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 7.ano. São Paulo: FTD, 2009.(Coleção História: Sociedade & Cidadania).

PROJETO ARARIBÁ: história/organizadora Editora Moderna; obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editora responsável Maria Raquel Apolinário. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2007.

Revista Almanaque de História Ano 1 – No.1 Editora On line.

Roteiro de Atividades:

1- Leia este texto com atenção, grife as palavras desconhecidas e faça o vocabulário no caderno.

2- Por que o nome Renascimento demonstra preconceito com a Idade Média? Explique com suas palavras.

3- Monte uma ficha sobre o Renascimento, seguindo o roteiro.

a) Em que contexto surgiu?

b) O que foi?

c) Onde se originou?

d) Quais são os principais valores renascentistas?

e) Cite três artistas, com suas respectivas, obras desse período.

[1] Preparado pela Profa. Alinne Grazielle Neves Costa para os sétimos anos de 2010.