A festa da Congada é uma manifestação popular cultural – religiosa que remonta ao período de escravidão no Brasil. Os escravos trazidos de várias regiões da África eram proibidos pela igreja católica de manifestarem sua religião. Eles eram catequizados e neste processo de catequização acabaram introduzindo em suas práticas manifestações da religião católica. Tanto que escolheram dois santos católicos para louvar. Segundo a lenda a escolha de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito não foi aleatória, vamos saber um pouco mais dessa história?
Nossa Senhora ficava em uma igreja construída pelos brancos, mas estava triste vendo o sofrimento que os negros escravos passavam (açoites, trabalho forçado, etc.). Um dia de tanta tristeza a santa fugiu do altar e foi morar no fundo do mar, os brancos rezaram na beira do mar, cantaram, mas Nossa Senhora não saiu do mar. Vieram os negros cantando alegremente para Nossa Senhora e ela apenas apontou a cabeça, mas não saiu. Por fim, um grupo de negros cantando com latinhas amarradas com sementes e dançando uma dança envolvente também cantaram para a santa que ficou parada no meio do mar e decidiu sair nos braços dos negros, mas desta vez ela não foi para a igreja dos brancos, mas sim para uma igreja toda azul construída pelos negros para homenagear Nossa Senhora do Rosário.
São Benedito era escravo e cuidava da alimentação da fazenda onde morava. Certo dia São Benedito ficou curioso para saber como era uma missa e pediu para o seu senhor para poder assistir a missa, mas o senhor disse à São Benedito: “Você não pode assistir a missa, porque apenas pessoas da alta sociedade podem participar desse momento sublime, além disso você tem que fazer o almoço”. Mas São Benedito desobedeceu a ordem do senhor, pois estava curioso para saber como era a missa e foi escondido assistiu uma parte voltou para casa e terminou o almoço.
Os negros adotaram São Benedito como santo protetor, pois, acredita-se que onde ele for homenageado não faltará comida na mesa. Dessa maneira, os negros elegeram então Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, os santos católicos com os seus protetores.
Assim, o objetivo da festa da Congada é homenagear Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
Em Uberlândia a Congada é uma das mais antigas festas populares da cidade e conta com a participação de pessoas de todas as idades jovens, homens, mulheres, adultos, idosos e crianças. O início da festa é em Agosto quando ouvimos por toda a cidade e batida dos tambores. Dá-se inicio à Campanha cujo objetivo é arrecadar alimentos e dinheiro para a festa. A campanha dura cerca de sessenta dias e se estende até novena que é realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Vamos entender um pouco mais sobre a Congada?
Os participantes da Congada são divididos em ternos, em Uberlândia existem hoje cerca de 25 ternos cada um com uma batida diferente, cores diferentes, dança diferente e forma de adoração distinta também.
· Grupos de Congo: celebram alegremente, homenageando Nossa Senhora do Rosário e São Benedito é realizada de forma bastante divertida, assim quando pulam pra cima com seus tambores homenageiam Nossa Senhora e quando pulam pra baixo São Benedito.
· Grupos de Catupés: celebram também alegremente Nossa Senhora do Rosário e São Benedito cantando alegremente, mas são ao mesmo tempo irônicos e fazem críticas sociais na forma como vivem os afro-descendentes. O grupo de catupés sofrem influência dos índios na forma de dançar e vestir.
· Grupos de Marinheiros: são grupos de resistência, remontam mais ao sofrimento dos escravos.
· Grupos de Moçambique: geralmente composto por pessoas mais idosas, por isso, a cantoria mias emotiva e lamentosa de louvor à Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
Estudar a história da Congada em Uberlândia é importante pois, como vimos anteriormente é uma das festas populares mais importantes e divulgadas da cidade e hoje é tombada pelo Patrimônio Cultural Imaterial. Além disso, a participação de crianças na festa é muito grande. Você sabe por que as crianças também participam desta festa?
Primeiramente porque é uma tradição que passa de pai para filho e perpetua até os dias atuais. A transmissão da tradição musical do grupo religioso é reforçada com oficinas de arte oferecidas por organizações não-governamentais com aulas de música, dança afro e de salão, pintura e bijuterias.
Na cidade de Uberlândia, o terno Marujos Azul de Maio, além de introduzir as crianças através de oficinas, também tem um time de futebol que participa da competição entre os ternos de Congada da cidade: “Só temos descendentes afros no time e somos bicampeões” disse o coordenador geral de eventos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em entrevista ao Jornal Correio de Uberlândia em outubro de 2009. A participação de crianças na Congada é tão forte que até cânticos especiais para elas alguns ternos fazem.
Cânticos dos Congadeiros Mirins.
“Ainda sou criança, tenho muito
que aprender. Por isso, eu te peço
Nossa Senhora, me guarde e me
guie e tome conta de mim”.
Assim, a presença das crianças na festa é uma demonstração de que o ritual que já existe há séculos será mantido. Um ritual que segundo Jeremias Brasileiro pesquisador Diretor de Assuntos Afro-raciais (Diaafro) e coordenador geral dos Grupos de Congada expressa: “A Congada é considerada uma manifestação de fé, cultura e religiosidade motivo de orgulho para todos os congadeiros”.
Bibliografia
BRASILEIRO, Jeremias. Cultura Afro-brasileira na escola: o congado em sala de aula. Editora Aline, Uberlândia, 2009.
___________________Congado um fluxo contínuo de revitalização cultural. Editora Aline, Uberlândia, 2009.
REZENDE, Creuza. Festas Populares; um olhar de criança. Gráfica Sabe, Uberlândia 1999.
SOUZA, Maria de Mello e. África e Brasil africano. 2ead. - São Paulo: Ática, 2007.
Este texto foi produzido pela professora Ana Flávia Ribeiro Santana no ano de 2009.
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